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31 julho, 2006

A resposta do mundo foi
(à pergunta)

Escreve, palavras vividas
que lerei, como frases sentidas.
Vive, momentos intensos
que sentirei, como instantes efémeros.
Relembra, experiências passadas
que adaptarei, aos meus próprios dias.
Ninguém sabe o que vai na alma de quem escreve,
quando escreve, a não ser ele, se o souber…
Rabisca o que quiseres,
que o sentido do que escreves,
está na alma de quem lê.

29 julho, 2006

Estranhamente

Embora não houvesse um charco,
estranhamente, um sapo cruzou o meu caminho.
Apesar de não querer companhia,
estranhamente, segurei-o nas minhas mãos.
Mesmo não perseguindo o mesmo destino,
estranhamente, não quis que me abondonasse.
Pensei que fosse um principe encantado,

estranhamente, ainda que não tivesse cavalo branco.
Sem chegar sequer a beija-lo,
estranhamente, descobri que era apenas um batráquio.
Continua a acompanhar-me,
estranhamente, não entendo porquê.

28 julho, 2006

La mala educación

Há quem sofra de um qualquer complexo de “eu é que sei e eu é que mando”, eu mesma, em algumas ocasiões sou atacada por este vírus - enquanto responsável que tem que assumir o resultado do trabalho alheio - pelo que por muito que às vezes me custe – e custa – como subordinada aprendi a encaixar a questão. Situação diferente é admitir a um responsavelzeco qualquer, com pretensões a braço direito e confidente do Papa (que não Deus, nem Jesus, nem o Espirito Santo), ataques virais graves, acompanhados de altas febres que também provocam faltas de educação. Mas, como alguém dizia há uns anos: “não lhe pisem os calos que ela diz que lhe dói”, e o sofrimento provocado pelo esmagamento das minhas durezas, vai necessitar de um tratamento, que alguém terá que pagar.

26 julho, 2006

Ir de cortos

Por algumas horas, revivi a sensação de ser estudante e andar nos copos, sem maior preocupação que pagar a minha rodada chegada a hora. El humedo é ou faz parte – questão a verificar na próxima visita – do centro histórico de uma cidade pequena e bonita, com uma Catedral deslumbrante pela quantidade e qualidade dos vitrais, com uns jardins refrescantes para longas ou curtas caminhadas – isso fica ao gosto do consumidor – uma Plaza Mayor como qualquer uma das que conheço – quadrada e com esplanadas suficientes para albergar nativos e visitantes – um Parador com fachada para admirar o tempo que se julgue necessário – e entretanto sonhar com pernoitar nela – um rio para recorrer e entreter o transeunte contando as suas pontes, as estátuas dos seus heróis e as igrejas de diferentes épocas e estilos, e principalmente uma vida própria que podemos admirar sentados num qualquer banco, observando a mesma passar após ter bebido uns cortos – pequenos copos de cerveja – sempre acompanhados de uma tapa de comer e não chorar por mais, apenas porque no próximo poiso será diferente e quem sabe se melhor, e a um preço de fazer correr lágrimas de saudades quando acaba o circuito.

24 julho, 2006

Recordações, que não existem

Todos os verões igual, preparar as malas com um sorriso nos lábios e prender viagem para a terra que nos viu nascer e crescer, onde temos a nossa origem, onde nos sentimos em casa, onde os vizinhos nos perguntam em cada regresso como está a nossa vida, onde temos os primos com que brincamos na infância e os tios que ainda nos recordam como tal, onde conhecemos todos os recantos, onde estão os amigos de tenra idade, onde herdaremos as terras que ninguém sabe onde ficam, onde levamos o namorado para apresentar à familia, onde queremos voltar quando a vida o permitir, onde … onde fica essa minha terra?

21 julho, 2006

Do outro lado

O que mais me custa, a só 10 km. de passar a fronteira, é despedir-me desse aroma a torrado do café. Vou beber um, para ter presente o seu saber durante estes dias, que bem poderiam ser mais, mas não são. Uma pena!

20 julho, 2006


Estúpida mania

Ter que dizer aquilo que penso às pessoas que me importa o que pensam, independentemente do que depois fiquem a pensar.


De nada, provavelmente, não fiz mais do que julgo minha obrigação

Há agradecimentos que mais parecem pedidos de desculpa, provavelmente, porque o são.
E quando saía, dirigiu-se ao meu gabinete, estendeu-me a mão ao tempo que me dirigiu uma saudação e seguidamente proferiu um: “Obrigada, pela ajuda na resolução do problema de stock”. Mantive-me estática e serena, nem levantei os olhos, nem respondi.
Há situações em que a melhor atitude que podemos ter, provavelmente, é ser indiferentes.

19 julho, 2006

Deve ser …

Não suporto, não aceito, não acredito e provo a quem for necessário – como aliás tive que o fazer - que na maioria dos casos, é um sinónimo de frases pouco agradáveis. É que me dizem: “não consigo”, e eu oiço: não quero, não me apetece, vai chatear outro, pensas que não tenho mais nada que fazer, faz tu, e, poderia continuar, mas acho que a ideia está clara.

Esta noite mal pernoitei, apenas quando cheguei a casa, olhei para a minha cama e ouvi-a dizer: “não tens saudades minhas?!”, e claro, não resisti a deixar-me cair suavemente sobre ela e fechar os olhos durante uma escassa hora, para retribuir-lhe a atenção.

Descobri que tenho algo em comum com aquele refrigerante tão popular, de que toda a gente conhece os ingredientes, mas não se descobrem as proporções. Juntamos responsabilidade, consciência e estupidez nas doses certas e … no apareces tu, aparezco yo! felizmente o inventor percebeu o erro e não houve produção em série.

17 julho, 2006

Mundo de sonho vs Surrealismo da vida

O mundo dos sonhos é fabuloso, embora às vezes os surrealismos da própria vida, consigam ultrapassar largamente qualquer mente, por mais imaginativa que seja. É que o ser humano tem uma capacidade de dissimulação para além do que o meu pequeno cérebro pode alcançar, e é ver e aprender, que como diz o povo: ninguém nasce ensinado – embora eu tenha as minhas dúvidas quanto a conseguir apreender essa arte tão singular. Prefiro viajar na minha nave intemporal, por essas paragens fantásticas que o meu mundo imaginário me proporciona, sem passar qualquer tipo de atestado a ninguém. Além disso, tenho um grave problema de memória, que suponho não seja compatível com tamanha capacidade, e é que não esqueço com facilidade, a maldita teima em armazenar, organizar e catalogar – é incrível como se apropriou de toda essa minha virtude, que às vezes tanta falta me faz para conseguir lembrar a cor do tampo da secretária. Mas há quem desconheça, ou faça por isso, e então julga que ignorando palavras e atitudes com tamanha hipocrisia, que até me faz duvidar dela, e com esse tom amigável de confidente única, a borracha da memória formata todas as vivências e é que como se nada tivesse acontecido, tal e qual como quando acordo do meu mundo fantástico e me incorporo novamente à realidade.

16 julho, 2006

Quero sonhar

Quero sonhar,
sonhar que a minha vida,
vai ser mais que 60 anos de árduo trabalho,
partilhado com filhos e netos,
partilhado com alguém que vai sentir a minha falta,
que vai deixar saudades.
Quero sonhar,
e deixar de sentir e só pensar.
Lutar.
Lutar por mais que uma mão cheia
de ideias confusamente sobrepostas
em pensamentos já pouco claros.
Quero sonhar,
como criança inocente que não entende,
que a vida é cruel, embora bela,
doce com sabor amargo.
Quero sonhar,
sonhar que sou capaz de mudar o mundo,
que nunca vou fraquejar,
e sobretudo,
que nunca vou deixar de sonhar
SBD 17.05.1995


Impressionante como a nossa essência, não muda…

14 julho, 2006

Psicologia barata ou uma noite Boémia com vista desde a janela

Era como uma reunião de família: com os pais, os filhos, as noras, os genros, os primos e a típica amiga de alguém, vinda não se sabe de onde nem porque. Havia manjares, poções, regozijo, e o momento especial, em que os orgulhosos progenitores brindam, as suas sempre crianças, com uma oferenda sentida, que elas recebem com jubilo e alguma vergonha encoberta com a laracha habitual.
Nunca os vi, nem ouvi, e sinceramente, o meu senso comum nunca os juntaria - suponho sejam como o dado mágico, que parece impossível acabar e depois de saber-lhe os truques, não é nada que não se resolva em trinta segundos – no entanto, sente-se-lhes o entusiasmo, o fio condutor que os entrelaça colocando-os à mesma hora, no mesmo local – como o grupo de crianças que reúne depois da escola, para jogar à bola na rua – mas com essa ingenuidade boba que nos faz acreditar que tudo é possível, amadurecida pelo brilho nos olhos da cor da esperança.

Obrigada pelo serão.

13 julho, 2006

Bi

Llevo diciendo ya hace algún tiempo, que en realidad debería haber nacido hombre - no se yo en que momento de su larga carrera hacia el objetivo, al tal cromosoma le nació la pata, pero el caso es que: ay que mono! una niña más.
Empezamos por el hecho de que me querían varón para dar al buen hombre, que nunca deseó especialmente tener gamberros revoloteando por casa, la alegría de un nieto para suplantar la falta de un hijo. Después, las frases que más escuché durante mi infancia: “Que parejita más mona! Ay que niña más maja…” - repetían incesantemente mientras le toqueteaban los ricitos rubios a mi hermano – “ah! esa es la niña!?”. De la adolescencia, como que ni me acuerdo de más que el pelo siempre corto y la ropa siempre ancha, tapando todo lo que pudiese ser una curva (y claro, los quilos excesivos) – que Dios tampoco me ha dado muchas, y yo sigo diciendo con orgullo, que me gusta mucho eso de parecerme a mi padre, a la hora de comprar el sujetador. Ya de la vida adulta, veamos: se me olvidan las fechas (no hay cumpleaños que resista), no entiendo el concepto de las flores y los chocolates (entre otras cosas, porque unas se me marchitan por falta de agua y los otros me gustan amargos, que nunca son), no soporto que me hablen por la mañana (de verdad que lo siento, que ya sé que es una lucha contra la insensibilidad, pero no puedo evitarlo), me gusta el whisky (si, esa cosa amarga con color raro), me encantan los niños de los otros (porque se devuelven al final del día), soy muy independiente pero mamá me sigue lavando la ropa (es que yo tampoco he sido nunca acostumbrada), no entiendo que alguien no conciba el sexo sin amor (si lo llego a esperar, la palmo más pura que la Virgen Maria), tengo el pie pesado, la mala costumbre de conducir con una mano y la manía de pegarme al de delante (pero cuando voy sola – vale mamá…es que tu y yo somos una) y podría continuar, pero tampoco es plan, que con todo esto donde quiero llegar es a otro sitio. Devo ter desenvolvido com o passar do tempo, um qualquer mecanismo que me permite entender fácil e claramente os homens - ou alguns deles, melhor dizendo - e não deixa de ser caricato, que as duas almas mais preocupadas neste universo, com que a menina não parta uma unha por andar a deslizar no escorrega ao mesmo tempo que brinca com a lua, tenham descoberto o engenho!

12 julho, 2006

Há de tudo

Claro que a ligação caiu, e como estavas para sair não voltaste a estabelece-la, claro que não ficaste chateado nem com a pergunta nem com o comentário indiferente, não havia porquê, claro que estás farto ainda que não desligues, mas sabes que me encontras embora não te manifestes, claro que gostas de falar comigo, senão para que continuarias, claro que eu acredito no ser humano, outra coisa seria absurda, claro que eu não deveria estar a escrever isto, nem isto nem coisa alguma, claro.
A linha que medeia a minha decisão de acreditar ou não nas coincidências, está pintada com a cor da injustiça, essa que não suporto e tem o mesmo tom que o sentir-me enganada, que também não aguento. E enquanto não consigo determinar onde está a verdade, se na coincidência se na dissimulação, é deixa-lo passar, o tempo, que tudo desmistifica.
Claro que ninguém troca Lisboa por Madrid, quando não se gosta de praia e nem sequer é verão, claro que se almoça na Figueira e se lancha em Seia, quando se anda à pendura, claro que ninguém vai a Madrid quando o Rock in Rio é em Lisboa, mesmo que tenha dois fins-de-semana, claro que ninguém conhece os Arcos, a não ser que venha de Monção e vá para Braga, claro que em reuniões de família não se viaja, a não ser que sejam os outros, claro que há distâncias que custam percorrer, principalmente se temos que ser nós, claro.
O destino está pintado com todas as cores, mas às vezes temos requintes de daltonismo, a ironia o torna cinzento e apenas conseguimos ver os seus tons nessa gradação tão apática.
Há coincidências e há decisões não assumidas, assim como há ironias do destino e caprichosos pessoais. Há de tudo.

11 julho, 2006

Conversas

E perguntou-me ele, com aquele terno olhar, de quem espera uma resposta que lhe esboce um sorriso de felicidade:
- Então e tu? Como estás?
- Eu, estou bem, como sempre, com o meu trabalho – respondi-lhe convicta, no fundo era a resposta que esperava ouvir, a de sempre. Mas enganei-me, queria mais, depois de mostrar-me o que guardava na sua alma. E questionou com um sorriso maroto:
- E gajos?
- Nenhum, pelo menos permanente! – repliquei, olhando-o nos olhos para que visse que não havia nada a esconder. E sorriu.

Conversamos com as mãos entrelaçadas,
acariciando-as em cada milímetro.
Confirmaram cada palavra, cada suspiro, cada confidência.
Disseram mais elas que nós, como sempre fazem,
com ternura, com verdade, com alivio.
Conversamos com as mãos entrelaçadas,
acariciando-as em cada milímetro.
Sentiram cada mágoa, cada conforto, cada sorriso.
Disseram mais elas que nós, como sempre fazem,
com amizade, com amor, com carinho.

10 julho, 2006

As tuas mãos

Caminhava pela areia morna da praia
com o sol já em queda
num fim de tarde ainda confuso,
a brisa parecia querer envolver-me
o corpo timidamente desnudo,
como se tentasse abraçar-me,
como se tentasse abrigar-me,
como as tuas mãos.
O mar calmamente ondulado
rasgando a linha do horizonte
como o infinito azul do céu,
o vento revoltoso
refresca-me a palidez da pele,
provocando essa sensação indescritível
de frio, que há de chegar
mas está atrasado,
como quando acaricias o meu corpo,
com as tuas mãos,
e me causas arrepios.

07 julho, 2006

Al final debo caer

Siempre he creído que no le caía bien, pero sin motivo aparente. Supongo que serán resquicios de mi inseguridad – a pesar de toda mi auto-confianza tengo muy claro que nadie es insustituible, y me gusta tanto lo que hago …- porque verdad sea dicha, le he dado motivos más que suficientes para poder dejarme de poner la vista encima con causa más que justa, y nunca lo ha hecho.
Hablamos de todo, menos de lo que nos une, de eso tan solo una vez y para decirme algo que creo casi nadie debe haber oído de quien le posibilita pagar los gastos a final de mes.
Nos reímos como tontos, ayer mismo en plena reunión como dos niños malos burlándose de los mayores – y es que tienen cada cosa los grandes…
Total, que no sé yo muy bien porque siempre me ha parecido que no le caigo bien, supongo que será porque no es muy expresivo y nunca acabo de entender lo que le va en la cabeza, ya lo que lleva en alma, ni soñarlo.
En este interregno, en el que han pasado unas buenas horas, al final hemos vuelto a hablar de los que nos une, el trabajo. Y aunque sigo teniendo bien claro que nadie es insustituible, poco hay más alentador que te elogien el trabajo, después de muchas horas intentando que las cosas salgan bien, verificando que los números son fiables y que el formato de las famosas hojitas de Excel, que alguien parece no querer preparadas, es de fácil lectura y presentación.
Y siento decirlo, pero cada vez más, una fuerza misteriosa me empuja para el otro lado, donde me siento bien, me tratan bien y adonde creo que pertenezco.

06 julho, 2006

Caso único

Não entendo porquê, também não perguntei, nem o farei.
Não chorei, o orgulho não quis e a raiva não deixou.
Acatei, não por respeito por despeito.
Estou cansada, mas não acabada.
Estou triste, mas não esgotada.
Estou perdida, mas não desorientada.
Amanhã será outro dia, que cedo começará.
Amanhã haverá outra história, para contar.
Amanhã talvez a vida, sorrirá.
Pode ser que um dia eu consiga entender,
porquê me quer roubar o prazer,
de brincar com as folhas de Excel.

05 julho, 2006

Homens de pouca fé

Perderam por medo de ganhar e perderam por deixar de acreditar, e é que os portugueses nunca fomos de ter muita fé em nós, sempre esperamos que o tal Sr. aparecesse de entre as brumas, e se quando as coisas correm bem esse pormenor é invisível, quando as mesmas decidem trocar-nos as voltas, a história já é outra.
Esperaria, se fosse a primeira vez, que toda esta euforia e unanimidade, que se gerou com o futebol, pudesse perpetuar-se e arrancasse do país a tanga que lhe vestiram há uns anos, e à qual comodamente tem vindo a habituar-se, mas dadas circunstâncias e o decorrer da história, auguro um sábado sofrido frente à Alemanha e uma segunda-feira de regresso ao queixume habitual.
A Crise dos 3

Todas as relações têm as suas crises, e a minha não havia de ser diferente.
Claro, que há crises para todos os gostos, como cores, e principalmente para todos os tempos. Quem nunca ouviu falar da crise dos cinco anos de namoro, dos dez meses a fazer o seu trabalho, do primeiro ano de casamento, dos sete anos de relação – sim porque os dois anos e seis meses iniciais, não namorávamos isso começou depois, explicam – do ano e meio a fechar gavetas e dos sete meses a encontrar cabelos de 30 centímetros espalhados pela casa? (são de autoria própria, mas qualquer semelhança com a realidade, não deve ser bem pura coincidência). E suponho eu, que todas nos fazem sentir igual: cansados, insatisfeitos, desmotivados, tristes, perdidos. É que as delicadezas começam a ser efémeras e a memória não tem espaço para as lembrar como o fazia, qualquer assunto é motivo de discórdia e discussão por mais ridículo ou descabido que seja, mais do que nunca impõe-se a lei do mais forte – entenda-se força como sinónimo de poder – porque parece que se habita numa selva, o grau de exigência aumenta na proporção inversamente proporcional ao da disponibilidade só para chatear, e até custa acordar uma vez que a inconsciência do sono é muito mais cómoda. Então, é necessário tomar decisões, e no meu caso, estou preparadíssima para acabar com ela – seja ela qual for, a crise ou a relação.

04 julho, 2006

Futilidades (leia-se preconceitos)

E diz-me ela: quando uma gaja não tem sorte …
E respondo eu: quando uma gaja não sabe o que vale …
Porquê,
a beleza é incompatível com a inteligência?
a maquilhagem com acordar antes das 10:00?
o bom gosto com o ser competente?
a sensibilidade com a extravagancia?
E porquê,
os pseudo-intelectuais têm que usar óculos?
quem gosta de ler não pode sair à noite?
a boa música está encerrada numa sala de estar?
a cultura tem que ser chata?


Para ti, neurótica.
O mundo

Não deixa de ter alguma ironia – essa do destino, que ultimamente teima em acompanhar-me a todo o lado – que consiga transmitir pela escrita, emoções e ideias com tanta clareza, quando levo uma vida inteira a querer comunicar ao mundo, coisas, que ele parece não entender. Porque pensava eu, que era clara a minha sensibilidade, e entendia ele, que tinha uma pedra no lugar do coração. E comentava eu, que talvez andasse a rir-me em demasia, e entendia ele, que mais parecia um regime militar. Sentia eu, que devia manter o silêncio, e queria ele, que gritasse uma coisa qualquer. Repeti eu, que a minha porta estava aberta, e respondeu ele, em carta registada com aviso de recepção. Então pergunto eu, será que com fundo branco ele entende o que quiser ou eu deveria ter nascido muda?, e responde ele ...

03 julho, 2006

Quem escreve assim …

Quem escreve assim,
ainda tenta compreender porque deixou de o fazer há quase uma década, se foi porque se cansou de descrever o estado atormentado em que vivia, se porque a vida assim o exigia.
Quem escreve assim,
gosta tanto de o fazer, que não consegue entender que para quem lê, possa ser um autêntico prazer.
Quem escreve assim,
não se esconde na humildade nem no desinteresse, tem apenas medo de defraudar a expectativa que sente se está a criar.
Quem escreve assim,
tem moral, e mesmo que não tivesse, não tenciona nunca mais deixar de declamar o que a alma quer gritar.
Quem escreve assim,
agrega as palavras que pensa exprimem o que sente, mas é quem as lê, que lhes dá o significado e a beleza que elas têm.
Quem escreve assim,
gostava de saber, o que a alma grita, o coração sente e as palavras exprimem quando se lê, o que ela teve para dizer.

02 julho, 2006

Tristeza tonta

Hay días que despertamos así, con una sonrisa tonta que creemos nos va durar toda la jornada, que nadie será capaz de robárnosla, pero nos equivocamos, siempre hay quien esté dispuesto a arrancarla poco a poco de nuestros labios, con crueldad.
Hay días que despertamos así, con una tristeza nostálgica que creemos que nos va durar toda la vida, que nadie será capaz de apartarla, pero nos equivocamos, siempre hay quien esté dispuesto a aliviarnos poco a poco el alma, con cariño.
Hay días que despertamos así, sin sonrisa ni tristeza, solo con el ansia de esquivar a quien esté dispuesto a cruelmente causarnos tristeza y con la ilusión de encontrar a quien cariñosamente nos quiera regalar una sonrisa.

01 julho, 2006

Aquela folha quadriculada

Procurei o início há poucos dias.
Aquela folha quadriculada cuidadosamente dobrada em partes iguais, do tamanho de um cartão de visita. Aquele pedaço de papel, onde estão escritas palavras de outro tempo, que arrancáramos com sofrimento dum sentimento que não queríamos viver.
Conservará sempre a marca - porque a tinha cuidadosamente guardada - do seu último momento de vida, que ironia.
Procurei o início há poucos dias.
Aquela folha quadriculada que antecedeu muitas outras brancas, de palavras sofridas e amargas sempre com uma réstia de esperança. Aquele pedaço de papel que me disse quando começou a preparação, para suportar o que haveria de chegar.
Conservará sempre o sentido, porque infelizmente a lei da vida assim o determina.
Procurei o início há poucos dias.
Aquela folha quadriculada fez-me entender, porque um dia parei de descrever o estado atormentado em que vivia. Aquele pedaço de papel desvendou o mistério do meu espanto, agora que não há pranto nem letras sofridas, apenas uma estranha alegria.
Conservará sempre um pedaço de mim, porque foi com o início que entendi, o que ainda hei-de sentir.