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26 outubro, 2008

O Gameboy de Deus

Ele é louco e eu fui expulsa de Marte, aterrei de cabeça na Terra numa pedra grande e dura, e claro, depois acontece o que acontece.
Ao que parece estamos todos a jogar um jogo que desconhecemos – salvo ele, que os outros dois já morreram, certo amigo?! certo!. Deus, que tem que passar o tempo e arranjar forma de premiar-nos, mesmo sendo as bestas mais bestas que ele pôs acima da Terra, parece que anda entretido a ver-nos atravessar rios e saltar por entre arbustos, fazendo-nos subir de nível, qual guerreiro na selva perdida, para atingir graus superiores de felicidade. Porque que graça teria, conhecer e dominar as regras do jogo, sabendo de todos os obstacúlos e armadilhas e podendo permanecer nele uma vida inteira? nenhuma, obviamente! Acontece então, que neste singular brinquedo com que Ele se entretem, o ganhador é cada um de nós, que para isso atravessámos obtáculos e passamos os níveis. Ele se limita a desenhar o jogo e a complicar-nos a existência com acréscimos de dificuldade inesperados, aos quais vamos reagindo conforme podemos, mas que nos permitem atingir um grau de satisfação e felicidade em crescendo – ou pelo menos isso diz ele, que está louco!

22 outubro, 2008

F de

Vivendo os dias no momento
e a rotina que se almejou,
os rostos continuam cansados
e a fiesta pelo fado não cambiou.

Fado que me acompanhou
mesmo que renegado,
fiesta que ansiei
sempre de olhos fechados.

E as certezas de outrora,
que afogaram-me a alma
são outras certezas agora
desenhadas de esperança.

Sonhos dourados no tempo
que a incerteza alimentou,
anos passados à espera
que de tardia mudou.

16 outubro, 2008

O Regresso

Regresso à escrita. Termina o silêncio de palavras cultivado na ausência; a tristeza de um olhar não se oculta na presença dum encontro, igual a tantos outros, que se evita. Se evitava.
Regresso à rotina. Os dias de descanso planejados com carinho foram um sem fim de angústias, desalentos, aprendizagem e certezas que não olvidarei. Foram tantos e tão poucos. Já foram.
Tempo de sentir, de entender, de sentir o entendimento, de entender o sentimento. Tempo, tempo que não passa. Tempo que passou.
Regresso à realidade. Acordo do sonho, protegido durante demasiado tempo. Numa terra que não a minha, deixei de procurar um futuro que me acompanhou todo o passado. É hora de viver o presente.
Regresso, a esse lugar ao qual pertenço, que me pertence; onde vou, de onde venho. Regresso a Marte, e não irei sozinha.