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25 maio, 2007

Angustia

Pensei em ansiedade,
resposta a uma pergunta inexistente,
mas não era verdade
ela chegou e a angustia permanece.

Ignora-la talvez fosse solução,
o tempo passa e não lhe encontro uma razão
e ela aproveita e disso se alimenta,
o dia avança e ela persiste, me atormenta.

Confessa-la parece inconveniente.
Inconcebível como pode acontecer,
um sorriso transformar-se de repente,
nesta angustia que agoniza um não querer.

24 maio, 2007

Figuras de Estilo

Caíram as figuras de estilo.
Não me resisto a partilhar contigo uma certeza, quando sempre foste fiel depositário das minhas dúvidas: deixei de estar assustada.
Beijo no teu banco.

O Banco informa todos os seus fiéis depositários de valores sentimentais, que irão receber dentro de dias um upgrade exclusivo, anexo à sua existência térrea, para quem tenha subscrito o pacote "não quero viver mais assustada, como enfrentar os seus fantasmas". A todos o nosso obrigado, felicitações e muita coragem. Ah, como tal, a rede que até então estava a ser utilizada irá ser retirada, importante usar capacete para evitar mais nódoas negras.
Beijo no teu upgrade.

23 maio, 2007

Confidencias

Não sei se algum dia deixarás de pertencer a esse meu mundo imaginário, sem o qual não sei viver e de onde me roubaste o carinho, num fim de tarde de acabado verão.

(Felicidades niño tonto)

22 maio, 2007

O medo assustado

“…Ninguém melhor que Pessoa para ilustrar com palavras o que nós apenas conseguimos sentir...Permite-me partilhar.
"Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez; data de antepassados animais em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural. A coerência, a convicção, a certeza são, além disso, demonstrações evidentes - quantas vezes escusadas - de falta de educação. É uma falta de cortesia com os outros ser sempre o mesmo à vista deles; é maçá-los, apoquentá-los com a nossa falta de variedade. Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada tem a obrigação cerebral de mudar e de certezas várias vezes no mesmo dia…" Fernando Pessoa “

“…pouco me importa ser uma seca invariável (por personificar, como é obvio, que afinal os egos necessitam alimento) e não gosto que me tratem por criatura, que vistam cortinas às janelas da minha inteligência (ou falta dela) porque filtram a luz e a sensibilidade que carrego, tenho-a anestesiada desde que fomos apresentadas, pelo que ser coerente, não passa de ser eu (o que nem sempre é fácil, confesso) …”

“Acabo de voltar à dura realidade, afinal de contas já lá vão 33 anos e ainda não tivemos coragem de fazer outra Revolução, por isso lá vamos cantando e rindo e eles comem tudo e não deixam nada... A discussão e a sã discordância são o sal (e quantas vezes a pimenta) das relações entre seres inteligentes e que não abdicam de usar essa sua capacidade. Tal como a provocação ao uso dessa mesma inteligência é o ganha-pão dos poetas. É assim que entendo o texto de Pessoa, uma provocação…
E há algo que alimente mais o nosso ego do que descobrir que somos ainda (e sempre) capazes de mudar e causar mudanças nos outros?...”

“As revoluções perderiam o sentido - se alguma vez o tiveram - se acontecessem cada 27 anos, 3 meses e 15 horas e eles, sejam lá que eles são, comeriam na mesma até ficar fartos, como aliás fazem. E quanto à tua questão, dizer-te que o meu ego se alimenta de devaneios sem sentido e cuidadosamente escondidos de outros olhos, que não os meus, mais que nada porque passa da anorexia à obesidade com relativa rapidez, e não é conveniente mostrar ao mundo (esse que não me entende, nem quero entender) os meus distúrbios alimentares…”

“… As Revoluções não podem ter hora marcada, mas deve haver coragem de as fazer sempre que a vontade de mudar é maioritária e bloqueada por minorias ou minudências sem sentido…”

“…As revoluções deixaram de fazer sentido, desde que se grita a democracia às 3 da manhã com o sangue em minoria nas veias onde corre o álcool. E a maioria de borregos sempre abrimos passo a uns poucos que decidem tudo, e aplaudimos umas vezes e queremos espancar outras. E de minudências é feita a vida.
E o meu ego não é tímido, é anoréctico - como estariam as minhas plantas se a compaixão maternal não as levasse para casa - que eu só sei tratar de mim, tudo o resto tem que ser auto-suficiente ou acabará por falecer de esquecimento, coisas da independência ou de uma dependência à liberdade, algo absurda; e ele é rebelde, sem causa obviamente, mas não um revolucionário com intenções de arrombar a porta de qualquer armário…”

“…Tentando começar pelo princípio e seguir alguma linha de raciocínio - sem contudo abafar a liberdade criativa e emotiva, sem as quais todos os escritos se tornam meros exercícios académicos - arrisco-me na aventura da procura das palavras, que construam frases, que consigam ilustrar estados de alma, introspecções várias, interpretações de ego. Aventura que contém perigos vários, pois não há nada de mais perigoso, e por isso também de mais emocionante, do que tentar passar a outrem, de forma crível e entendível, interpretações, convicções e emoções que são nada mais que construções nossas - e por isso muito queridas - permitindo ao eleito ouvinte/leitor o uso do seu senso crítico, que se identifique ou as repudie ou critique. Mas, quanto a mim, é esta aventura que consubstancia a dita partilha da qual é feita a vida…
…É o "Grito de Ipiranga" que nos vem do intimo, e que maioritariamente calamos à força, transformando tudo em revoluções falhadas ou silenciadas, onde nos transformamos em borregos de rebanho sem vontade própria, submissos à nossa própria tirania. Mas dizemo-nos livres. Mas chamamo-nos independentes. Seremos realmente? Esta é uma pergunta que me faço com estranha regularidade. Talvez comece a ter consciência que só serei verdadeiramente livre e independente quando aceitar que quase tudo o que me oprime, ofusca, magoa e reprime está em mim e na minha "imagem de marca" antes de estar nos outros. Outros esses que até conseguem estender-me uma mão amiga, gostar de mim, por vezes até desejar-me, sem que eu não faça nada disso por mim próprio…”

“…O que me transcende, é não entender como é possível que alguém continue a fomentar o: "Está na mesma" e essa "imagem de marca" caduca, que possivelmente pouco tem já de real, sabendo a mudança ao alcance de uma mão que existe…
Saltas do colectivo para o individual e do eu para o nós com tamanha facilidade, que chega a ser constrangedor pensar que a confissão é tua e não duma qualquer consciência social. Revolução?! Que pretendes revolucionar? a ti ou esse mundo que tentas mantenha uma imagem que nem tu sabes se existe?...”

“…Efectivamente Freud seria capaz de explicar muita coisa... Mas há sempre aquilo que nem Freud é capaz de explicar, ou encontramos nós as respostas ou nunca as vamos ter.
Em conceito puro (até me dou ao luxo de criar conceitos), "imagem de marca" é o conjunto de características que de tão propaladas (independentemente de existirem ainda ou não) se transformam na quase única ideia que os outros assumem de nós e da nossa personalidade. "Revolução" também em conceito puro (criado por mim) é o acto de revolta contra a "imagem de marca", a tentativa de fazer valer a essência e viver a essência (minha e dos outros) sem constrangimentos nem pré-conceitos criados e alimentados acima de tudo por cada um de nós, mas também pela forma como sistematicamente olham para nós. Destes conceitos, da sua inter-relação e da relação deles com o indivíduo e os que o rodeiam, nasce a dificuldade ou mesmo impossibilidade (muito bem identificada por ti) de falar exclusivamente na 1ª pessoa ou na 3ª ou em qualquer outra. Porque (também na essência) é impossível estar bem só (diferente de sozinho) e mesmo que inconscientemente procuramos (ou será só procuro?) a melhor forma de nos relacionarmos e viver a essência dessas relações. (Confuso? Até eu estou com dificuldades...)
Em resumo (se bem entendo o que escrevi): Anda meio mundo à procura da mão do outro meio e não se encontram... “

“…E explicado dessa forma, com conceitos e definições em forma de manual explicativo, entendi o desabafo, mas continuo a não compreender o que me transcende, desta feita elevado a problema social da Humanidade…”

18 maio, 2007

Volvió

Da mesma forma que desapareceu, assim voltou.

Sem avisar, sem pedir ou esperar.
E o Oscar, continua a caminhada, não creio que tenha encontrado o charco, mas estou certa que continua a procura-lo.

16 maio, 2007

Barragem de sentimentos

A nascente há muito se desconhece,
já vai longe e a ninguém importa de onde fluiu
a corrente de natural água límpida
que segue um curso traçado à medida.


Do seu corpo apenas uma certeza,
buscará edificar a barragem
que filtrará os seus sentimentos.

A foz, uma indecisão,
ainda o seu leito não desenhou todas as margens
e o caminho que percorre, não procura sal
nem triangulo de formas gregas.

Todo teu, como bem sabes.


14 maio, 2007

Calmamente

Quando a velocidade aumenta, ingenuamente pensamos que a nossa vida descolará, como avião de voo charter, de forma mais ou menos desejada, mais ou menos esperada. Acabamos emaranhados numa teia de ilusões adormecidas pelo efeito do tempo e o abrandar da marcha.
E é num dia qualquer, igual a tantos outros, que os perversos efeitos das mudanças nos atingem sem saber porquê, exigindo adaptações para as quais nem sempre estamos preparados, mas que temos de enfrentar, calmamente.

A balança, nem sempre está equilibrada.

11 maio, 2007

Requintes de maldade

Uma noite escura, o sol do dia

derrama lágrimas com cobardia,
tempo que espera acordado
o pecado, de uma decisão tardia.
A confusão de um labirinto
que cresce na razão do pensamento,
entre arbustos e bravas roseiras
apenas tentando enganar sentimentos.
E me apavora a fria crueldade
mesmo sabendo-a talhada a ingenuidade,
que engalanada em frase delicada
abrigará requintes de maldade.

09 maio, 2007

Burra, ingénua ou cómoda, eis a questão
(ou tu estás errada e eu não - rima, que bonito!!!)

Às vezes devo ter falta de vista, ou então, de tão amiga de Platão que sou, releio os escritos como sendo teorias sociais da Humanidade aplicadas ao individuo, que conjugando com a utilização de plurais e singulares, eus, vós, nós e tu, se clarificam tornando tudo límpido e cristalino, como a água da Lagoa Azul; arrematamos com um instinto maternal por criaturas com experiência de vida em demasia, para serem fruto do meu ser, e acabaremos a discutir o sexo dos anjos.

Vou mudar as lentes, que descobri há poucos dias que têm a aparência da camisola do Wally, e assim, não há quem vislumbre.

06 maio, 2007

Hoje

Senti-te a falta,
quando virava a página do livro recém começado.
Não tinha o teu corpo ao meu lado para apoiar-me, enquanto a brisa não deixava que o sol me acalentasse, e as tuas mãos apartavam o cabelo dos meu olhos, destapando-me a cara.
Senti-te a falta,
quando passeava a beira rio buscando algo no infinito.
Não tinha os teus dedos enrolados nos meus, enquanto os meus passos me levavam a nenhures, e a tua voz era muda, apenas perceptível pelo movimento dos teus lábios, aniquilada pelo som da música nos meus ouvidos.
Senti-te a falta,
Quando fazia o pedido à simpática senhora da esplanada: um café, uma água, um.
Não estavas para esvaziar metade do açúcar na minha chávena, enquanto misturava a água natural e a fria, e o teu sorriso iluminava a minha tarde de primavera, refrescada por um doce gelado a dois.
Senti-te a falta,
porque hoje, gostava que tivesses existido.

03 maio, 2007

Dias que passam

E lá estava ela por detrás das nuvens, cheia e brilhante, perfeita.
Chora lágrimas de arrependimento, de uma culpa que não existe mas que a consome e eu, apenas lhe consigo secar as faces.
Abri a garrafa, tantas vezes prometida, tentando transformar uma mera degustação num acto de amadurecimento, como se o necessitasse.
E a cada dia que passa uma nova angustia, uma certeza, uma luta a travar que para mim, apesar de tudo, ainda é uma incerteza e eu, apenas posso ouvi-la.
Continuo a esconder-me atrás dela, da escrita, vivendo uma vida que não quero a cada nova palavra delineada.