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26 setembro, 2007

Lua

A Lua é realmente fascinante. Como é fascinante tudo aquilo que nos intriga e faz sonhar. Tudo aquilo que tem rara beleza, uma beleza que não está ao alcance nem de todos os olhos nem de qualquer olhar. É preciso querer ver e ter vontade e paciência para treinar a visão, para aguardar que ela revele todas as suas fases, as suas faces, os seus mistérios. O Sol é o astro Rei, tem uma luz inigualável, gera e difunde calor, é fonte de energia e tanto é capaz de criar vida como de matar. Mas não tem o poder magnético e enigmático da doce e cruel Lua. É ela que alimenta a inspiração dos poetas, que assiste aos devaneios dos boémios, que ilumina as dores dos apaixonados, que assiste ao prazer dos amantes. Está longe, estando tão perto, parece parada contudo move-se, tem forma definida mas surge-nos disforme. Tem carácter instável mas forte, mostra-se quando e da forma que entende, seguindo o seu próprio ritmo, não se importando com aquilo que dela dizem ou dela esperam. Dizem que já ouve quem tivesse pisado solo lunar, mas mesmo a ser verdade - e há também quem diga que não o é - já foi há mais de uma vida - pelo menos da minha - e nunca mais sequer se tentou repetir. Prova que não gosta de ser pisada e o deve ter dito ou feito sentir. A lua é única. Mas acredito que uns quantos (poucos) privilegiados, tenham encontrado nas suas vidas outras luas. Eu encontrei. E exerce em mim o mesmo fascínio da Lua mãe.

HMF 27.06.2007


E enquanto todos pensam que se escondeu, ela, incansável, continua a gritar-lhes que olhem o céu, que lá continua.

Te quiero mucho.

25 setembro, 2007

Sempre

E fui incapaz de conter as lágrimas que me escorriam pela face, ao tempo que lhe sussurrava ao ouvido “te quiero mucho” e a apertava num abraço que queria interminável.
Tenho a vida marcada por despedidas e reencontros, pela distância.
A emoção da chegada a uma cidade iluminada de Natal e musicada com um “Vuelve a casa”, culminava na tristeza de um beijo que seria único demasiado tempo. A estrada infinita que se prolongava para além do comprimento, agoniava uma ilusão crescente e a decrescente contagem dos dias terminava num abraço que queria sentir para sempre.
Foram lágrimas de saudades, de tristeza e alegria em cada regresso, em cada partida.
E atrás de cada passo que damos, fica um passado.

19 setembro, 2007

Onde estás?

Sempre gostei da doce companhia do silêncio que acompanha a solidão e nos permite ouvir o pensamento. Mas hoje queria um grito, um murmúrio, o som da aragem provocado pelo acenar, que anuncia o teu regresso.

18 setembro, 2007

As pegadas de Deus quando troca alumínios

Dizem que quando Deus fecha uma porta, abre uma janela e que o único par de pegadas que vemos na areia da praia em horas difíceis, são as dele, que nos carrega ao colo.
Não sei porquê quis fazer a primeira comunhão, nem porquê fui baptizada; relembro ir bendizer o ramo religiosamente – e nunca melhor dito – todos os anos, porque sempre havia roupa nova a estrear, que só seria novamente utilizada ou nas idas ao médico ou nos domingos de festa, com grande pena minha. Frequentei um grupo de jovens católico enquanto em casa zombavam das minhas idas à Igreja e ainda hoje, o único que me atrevo a cantarolar em companhia da solidão, são os cânticos tantas vezes ensaiados para a Missa de domingo, que aprendi noutro tempo. Deixei de frequentar os Templos semanalmente há demasiados anos, recebem agora a minha visita esporádica, em casamentos, baptizados e funerais – como do resto dos comuns mortais. Continuo a falar com Ele nas aflições de ânimo e nas graças de espírito, da mesma forma que converso com o meu pensamento, para aliviar a alma; e tenho sentido a sua presença marcada no chão, junto à minha nova janela com vista ao infinito.

17 setembro, 2007

Indecisão

O lago é imenso e a sua água cristalina, olho em volta seguindo os barcos que navegam calmamente num trajecto que me parece delineado a régua e esquadro. Estou cansado. Há demasiado tempo que estou a remar: ora para frente, ora para trás, sem conseguir decidir o caminho que quero tomar; a certeza do que quero, a certeza do que devo e nesta convicção imóvel permaneço num tempo, que só não passa para mim.

14 setembro, 2007

Os quiero

Hoy sólo quiero ver la felicidad en tus ojos y apartar cualquier tristeza de ti, incluso las ausencias y distancias de quienes amas.
Hoy sólo quiero que dejes el sol iluminarte el camino, abrillantando tu áurea y apartar cualquier nube, por más blanca que sea.
Hoy sólo quiero compartir contigo este día, que seria interminable y apartar cualquier intruso por más conocido que fuese.
Hoy sólo quiero quererte y que lo sepas y que lo sientas.

Os quiero, Feliz cumpleaños.

13 setembro, 2007

Marte roda pelo campo

Não vi atentamente a partida, mas pelo canto do olho fui espreitando um jogo de duvidosa qualidade. Tudo parecia acontecer em câmara lenta, como se os pés se enterrassem no relvado impedindo os jogadores de avançar a uma velocidade apropriada ou a o bola tivesse perdido a sua condição esférica, ganhando ângulos rectos que não a deixavam progredir - ilusão de óptica da minha retina, suponho. E os adeptos encheram o estádio de alegria e esperança, decorando-o com bandeirinhas e cachecóis, sem entender que quanto mais rei o proclamem, mais a corte abusará do estatuto, deixando o povo reduzido à miséria.

Não consigo entender a euforia nacional numa fase de apuramento (sofrida), para um europeu de futebol onde se demonstra que se é capaz do melhor e do pior (e do impensável), quando duas outras selecções (também) nacionais, uma ainda em competição e outra acabada de regressar, não têm o destaque próprio que lhes é devido no decorrer do evento, que seria dizer nas respectivas fases de qualificação; porque o merecido, a acontecer, acabará sendo uma homenagem póstuma, como invariavelmente sucede.

10 setembro, 2007

Fim-de-semana (de uma vida expulsa) em Marte ou o medo de sofrer

Deveria ter sido um festim decorado a alegria, reencontros e amizades há muito apregoadas a viva voz. Acabou numa mera refeição.
Há dias estranhos, em que parece que nada do que acontece faz qualquer sentido. Atitudes e palavras reflectem num espelho disforme que as transforma de forma irreconhecível e nada do que pretendíamos fazer ou dizer sucede como planeámos, se sequer o fizemos.

Desculpa, sem culpa nem papel principal foste um admirável espectador;
desculpa, aprenderei que não se pode patrocinar o que não nos pertence;
desculpa, não estive na convicção que a minha presença acabaria indesejada;
desculpa, o silêncio é um fiel companheiro que me acode sempre que sou incapaz de falar.

E do medo de sofrer, tortuosamente reprimimos sentimentos tentando negar-lhes uma existência, há muito provada. Valerá a pena sofrer por medo de sofrer?

06 setembro, 2007

Feliz (ou porque tu dizes que por vezes pareço triste)

Sou. Mas hoje não estou. Não sei porquê, nem sequer se devia não estar. Acho que não. Que tenho tudo, ou não tendo, Pelo menos tenho mais e melhor. Acho. Não estou, mas sei que de um momento a outro, Volto a estar. E um dia, saberei porquê. Também não importa. Porque afinal basta ser. E sou.
Há dias assim, em que tudo parece não ser suficiente. Em que me sinto ausente, não sei onde, mas não perdido. Há dias em que quero tudo, tudo tendo, mas não sentindo que o tenho. A noite há-de vir e amanhã outro dia também. E acredito que volto a ter tudo, mesmo que não tenha. Não é fácil ser não se sentindo sempre estar. Mas sou, não tenho dúvidas.

HMF 05.09.2007


Estás triste, és feliz?

És, o céu sereno e azul que aconchega sonhos;
não estás, a bravura do cinzento rompe numa praia deserta.
És, a brisa que alivia a doce tarde de verão;
não estás; o calor derrete as almas que vagueiam no tempo.
És, a refrescante chuva que renova esperanças;
não estás, a tormenta encharca tristezas próprias e alheias.
És, o sol que ilumina o sorriso ao despontar do dia;
não estás, as manhãs acordam à hora marcada pelo dever.
És, a luz da lua que de prata veste o caminho do mar,
não estás, a negridão da noite não deixará ninguém caminhar.
És, feliz na certeza do querer ser
não estás, a dúvida assalta num vazio que existe.

05 setembro, 2007

Amizade (a duas mãos)
Loucuras de (duas vidas expulsas) de Marte

Deixei-te entrar, porque te reconheci,
eras tu a amiga de outros tempos.
Caminhaste, em todas as direcções
em mapas, que só identifiquei
nas palmas da tua mão, porque,
és mais fácil que eu,
e mais difícil de ser, porque és tu
e os espelhos fazem-me mal.
Caminhas, sentes, ages, sofres
interpretas, questionas,
mas vives, independentemente
da condição que te propuseste
ou obrigaram a viver, sê tu.
Deixa-me reconhecer-te
em momentos que são só nossos
que queremos a dois.
Vem, porque te quero aqui,
na noite negra que só nós vemos
límpida, como os dias de chuva,
como o sol que nos abraça.
Por vezes é mais fácil sermos nós
do que ser eu, e para os outros
somos sempre melhor, amiga.

03 setembro, 2007

(El) Passado (pasado está)

Felizmente eu não tenho passado relevante que me persiga, embora me pareça que em alguns momentos ele queira surgir de onde não pode.
Nunca entendi porque se sente uma necessidade quase vital, de saber um passado que acabou noutro tempo. Suponho que gostamos de acrescentar contínuos pontos de interrogação às nossas vidas, como se tivéssemos um prazer especial em duvidar. Por razões mais ou menos tortuosas, sempre há quem tente que ele renasça, qual Fénix que carregará um fardo demasiadamente pesado, fazendo-a entrar em combustão. E nem sempre é fácil soprar, evitando que as cinzas renasçam.

Aprendi, há já alguns anos, que quando deixamos que o passado interfira no presente, acaba determinando o futuro.