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23 junho, 2006

Assustas-me

Assustas-me - tens que perder essa mania de esconder-te atrás da porta e fazer buh!, já não tens idade para isso! - não era bem isto, mas é que não deixo de pensar que deveria ter aprendido há muito tempo o divertido que pode ser rir de nós, mesmo sabendo que não temos graça, aliás, o sorriso vem daí! E não consigo evitar. Haja sentido de humor para o ridículo!
Mas, recomecemos …

Assustas-me,
porque me recordo
como se hoje fosse,
a primeira vez que me apareceste assim.
Vestido com o traje sumptuoso,
que a minha consciência envergava,
murmuraste o que já sabia,
o que já sentia,
o que ingenuamente pensava que escondia
a todos, menos a ti.
Assustas-me,
porque o passar dos dias,
na presença e na ausência,
mais não fizeram que talhar o traje,
e a ela posso evitá-la,
a ti não sou capaz,
e dizes-me o que penso,
e dizes-me o que sinto,
e perdi a ingenuidade e já não me escondo,
nem deles, nem de ti.
Assustas-me,
porque não entendo,
se o traje que tão bem te assenta,
foi feito de encomenda a pedido dela,
se é apenas um reflexo de ti,
e duvido se sei o que pensas,
e duvido se sei o que sentes,
e sei que não há ingenuidade e que não te escondes,
nem do mundo, nem de ti.

Confesso que a admiração que sempre me despertas-te, nunca me deixou muito claro se seria eu capaz de vestir o traje ou era apenas uma pretensão minha, acho que hoje percebi. É que nunca fui capaz – e continuo sem ser, como sabes – de deixar invadir o meu mundo sem ter a certeza de conhecer perfeitamente o invasor.