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18 março, 2009

Sabes Yaya, algunos, tenemos que quedarnos sin bambas, para aprender

Sentadas no sofá da sala, conversávamos. Os 34 anos de vida já me deram o estatuto necessário, para ser ouvida e ouvinte, mesmo para quem continuo a ser uma criança. Contava-me a sua última reacção egoísta, porque nem sempre consegue ver para além do umbigo. Nada que me espantasse, tendo em conta que dois dias antes a reacção foi comigo, e é que à minha tia-irmã, faltou-lhe aprender que não vale a pena ficar sem os ténis.
Era sempre um dia emocionante, apesar da viagem infindável. Sei que a repeti por várias vezes, e verdade seja dita, gostava de a reviver. Tenho hoje a consciência, que outrora não podia nem devia ter, que toda essa emoção se prendia com o facto de saber que voltaríamos com algo novo e especial, algo, que nem sempre tínhamos ao alcance. Afinal as idas a Andorra, eram mais que um passeio, uma ida às compras. Não consigo relembrar o porque, tamanha a importância da questão, apenas sei que nesse dia entramos, mais uma vez, num interminável número de lojas de desporto, para escolher uns ténis de qualidade (leia-se marca). Recusei-me a escolhe-los, porque uma birra inútil, ditou que os meus princípios, fossem eles quais fossem, não se renderiam a uma compra mais que desejada, mas amarrada à chantagem. Tontearias de uma pré-adolescente, a lutar contra o mundo que a queria dominar. E lá voltei para casa de mãos vazias. Nos meses seguintes e com o acordo do irmão mais novo, fui utilizando os seus sapatos desportivos, que cuidava com carinho para não romper o pacto que mantínhamos. Mas nunca fomos de muitas meiguices e sempre lhe detestei essa qualidade inqualificável que o obrigava a tentar manipular-me sempre que não obtinha o que queria, quando queria e porque queria. E um dia a briga aconteceu, e obviamente quando fui tentar usar os seus ténis, a discussão começou. Escusado será dizer, que a Piedade rapidamente resolveu a questão. As sapatilhas não eram minhas, eram dele, pelo que não havia nada para debater. E aproveitou a ocasião, pela qual estou certa esperava, para relembrar-me que se não tivesse sido casmurra e lhe tivesse dado ouvidos, porque mesmo chateada, surda não era, o problema nunca se tinha posto. Nesse dia aprendi, embora não esteja certa de lembrar-me sempre que devia, que as birras são birras, e portanto só cada um de nós, perde com elas.