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16 novembro, 2006

Toques
Crónicas (de uma Vida expulsa) de Marte


Toque de mensagem – qualquer dia deixamos de ouvi-los porque finalmente inventam um sistema de telepatia que nos livre os ouvidos de toques (de telefone, telemóvel, SMS, MMS e todas essas coisas) - e esperemos que não seja mais uma campanha publicitária do operador, não há tempo nem paciência. Três minutos depois e uma confusão mental promovida pelos saltos de Tico e Teco, apregoam a certeza de mandar a certeza ao lixo, porquê não era a campanha publicitária do operador?! Não entendo, estou cansada e entrei em greve. Os contextos são os locais de onde as palavras não devem ser retiradas, porque senão perdem sentido. É algo assim como “roubar” os animais ao seu habitat natural, sobrevivem, adaptam-se, mas no fundo, perdem parte da beleza que lhes confere o ambiente.

E tocou o telemóvel, e imediatamente imaginei a conversação:
- Estou?
- Sim, diga;
- Desculpe estar a incomodar;
- Não faz mal, o que se passa?
- É que … onde devia estar mesmo o botão do servidor?
Observei o ecrã, não para confirmar, mas apenas como ritual de atendimento do telemóvel. E voltei a olhar para verificar, e mais uma vez, e teria continuado – já evadida de “não suporto o barulho que faz” – não fosse o Teco ter mandado o polegar carregar na tecla verde para não perder a chamada. Não entendo, estou cansada e entrei em greve. Os hábitos transformam-se em preocupação e saudades. E os telefonemas em detalhes. E eu, numa pedra fria.

E respondi, não sabia a quem nem o quê. Saltei da cama ainda meio ensonada, de olhos abertos na escuridão do quarto, dirigindo-me automaticamente em direcção à porta. E ali estavam.
- Desculpe incomoda-la, está tudo bem?
- Sim, está tudo.
- Chamaram-nos para verificar se tinha acontecido alguma coisa, mas se está tudo bem, um resto de boa noite.
- Está, obrigada e boa noite.
E olhei para a porta da frente, e vi-os olhando para mim, com algum constrangimento.
- Desculpe, vizinha. Mas cheguei do trabalho, e vi a porta encostada. Toquei-lhe à campainha, ao não atender, achei melhor chamar a policia, não tivesse acontecido alguma coisa.
- Não faz mal, devo tê-la deixado aberta ao entrar. Tenho o sono pesado, não ouvi a campainha, mas assim que abriram a porta, sim. Obrigada e boa noite.
Não entendo, estou cansada e entrei em greve. Eu não teria dado conta. As portas são para abrir e fechar ou deixar abertas. O sono não deve ser interrompido. A preocupação talvez não fosse mórbida. A vida é minha (ou de qualquer um).

2 Comments:

Blogger Ana retalha...

Já vais tendo material para um brevemente encheres um livro inteiros de «memoirs»... e com o k te acontece, vai ser o melhor best-seller do ano... na área de ficção, claro, pk nenhum dos leitores vai acreditar k as coisas aconteceram mesmo.
Um ou outro até é capaz de comentar: «caramba, isto é pior k as novelas». E é mesmo: é a Vida!

17 novembro, 2006 11:38  
Blogger Uma vida qualquer retalha...

Niguém disse, que ela era fácil!

17 novembro, 2006 16:00  

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