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19 setembro, 2006

Calar

Não pensava eu, algum dia proferir a resignada afirmação: “há coisas que não vale a pena discutir, com determinadas pessoas”. Primeiro, porque tudo é discutível – no dia que não pensar assim, suponho que deixarei de mudar de opiniões e começará o meu declínio para a velhice, tenha a idade que tiver - segundo, porque adoro discutir - é como se no meu sangue, todos os habitantes estivessem em festa - e por último - como não gosto de ficar a dever nada a ninguém e a humildade não podia ser menos - as pessoas com quem discuto têm sempre uma opinião, que vale a pena ser ouvida. Ultimamente, no entanto, tenho dado comigo a ficar calada e sem contestar, afirmações que me produzem efeitos secundários diversos, desde o encaracolar da penugem dos braços até o inchamento das pupilas que por momentos parece saltarão das suas orbitas (tal qual Plutão, quando se canse de ser tratado por anão). Este fenómeno recente e estranho, tem vindo a ser estudado para poder concluir qual é o nível de mutação do sistema cerebral que me habita, e não há motivo para alarmes. Ao que parece, quando não há quem me substitua no lugar de argumentador – que o Tico e o Teco, bem precisam de férias com tanta alteração hormonal – um elemento conhecidamente misterioso, reside num dos corpos, o álcool, e esse, há já muito tempo se provou que não discute, apenas se limita a contrariar.