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19 outubro, 2006

Viver

Nunca esqueci as suas palavras: “adoro viver”. Ecoaram durante meia vida e toda uma adolescência num recanto de mim, enquanto tentava repeti-las pensando em voz alta e elas teimavam emudecer. Com o passar do tempo guardei-as numa das gavetas do meu armário secreto, aquele que contém os meus mais preciosos tesouros. E ali permaneceram.
Só necessitaram passar dois dias para sentir-lhe a falta, aquele riso estridente, que tantas vezes julguei me incomodar arrepiando a minha sensibilidade até à irritação, não se ouvia. E então entendi-o, procurei-o onde sabia se encontrava e pedi-lhe para voltar. Confessei-lhe que tinha saudades, que não sabia viver sem ele.
Sem saber como, quando ou porquê, um sorriso mágico apareceu pendurado num cabide do armário, era o meu. Revirei então todo o seu conteúdo buscando aquelas palavras, estavam na gaveta onde as guardara, sussurrei-as amedrontada e pareceu-me ouvi-las, e enquanto o mágico sorriso me vestia os lábios, gritei-as.