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28 agosto, 2006

E tive pena

Há situações tão ricas em si mesmas, que poderíamos transformar em autênticas novelas de humor negro – ou amarelo, se tivermos em conta alguns sorrisos. Esta é uma delas, ou a minha percepção do sucedido, bem vistas as coisas.
Há graus de afinidade diferentes, há amigos de amigos distintos, há seres humanos que nada ficam a dever à humildade à primeira vista, mas no fundo apenas porque um qualquer complexo lhes empurra as palavras em direcção à boca sem que se apercebam, e há quem aviste mais do que gostaria e possua uma cegueira mental para aquilo que lhe incomoda que foi sendo treinada ao longo dos tempos.
Sempre tive outra ideia bem distinta dela, talvez por isso – e porque sob o efeito do álcool parece haver atitudes difíceis de controlar – repeti-lhe incessantemente que embora não tivesse nada a ver com isso … e de facto não tinha, nem tenho. Confessei-lhe que relembrava duas situações de há muitos anos, a conversa em castelhano numa qualquer casa de banho de bar e aquela tarde … é que tenho uma frase que ela proferiu, cravada na garganta qual espinha de peixe-espada preto. E de repente aquela imagem que conservara durante mais de uma década, ruiu. Não ficou nada de pé, o esqueleto desfez-se deixando-a irreconhecível. E tive pena.